Trago no olfato o cheiro a humidade da minha Igreja preferida, as paredes grossas, o altar despido, os vitrais finos estrategicamente colocados para nos trazer A Luz… o silêncio… que se quebra com o peso da porta que entre uma oração e outra se abre e revela o peso da idade da estrutura. Ironicamente, não gosto dela cheia, prefiro-a minha, na solidão da convivência com Deus… mas não só é isso egoísta, como muito pouco Cristão…
Mas o que é isso de viver em Cristandade? Como posso eu ser igreja? Viver nela? Trazer o conforto que ela me transmite, com ou sem pessoas?
Acredito que todos nós temos esse lugar, onde o encontro com Cristo é mais vivo – ou assim o parece…; onde nos é fácil encontrar e falar com o Pai, onde nos sentimos em casa, onde nos sentimos na plenitude da nossa fé, onde quem lá está nos compreende. Mas será que esse sentimento só existe ali? Ou precisa de um lugar físico para existir?
Crescemos com a importância do viver em comunidade, procuramos esse encontro com o outro em todos os campos da nossa vida, em algumas circunstâncias somos quase que obrigados a vivê-lo e em tantas sabemos que é essencial. Viver na fé também o pede, sermos membros ativos da nossa comunidade, participar, entregarmo-nos e dedicarmos tempo ao outro, que no fundo também somos nós e que no fim é Deus. E nada há de errado nisso… o problema está quando a “comunidade” passa a ser conceito e não vocação, passa a ser obrigação em vez de vontade, quando achamos que apenas somos Cristãos entre as quatro paredes frias, do lugar quente onde encontramos Cristo. Mas e onde fica o mundo que Deus criou fora dessa estrutura? Como contemplamos todas as Suas outras maravilhas?
São Francisco pedia a Deus para o fazer “Instrumento de Paz”, e eu acho que Deus nos convida a todos para ser “Instrumento de Fé”…leva-la além fronteiras, ser testemunha no dia a dia, reconhecer as outras comunidades a que pertencemos como igualmente filhas de Deus, senti-Lo presente como sentimos na Igreja, fazê-Lo presente como fazemos em cada Eucaristia… mostra-Lo, falar Dele ao próximo, reconhecer o próximo… ser Igreja fora dela, e assim, também nós darmos mais um passo para a Santidade.
Eu sei que “a minha” igreja existe, sei onde fica, ao que cheira, sei a segurança que me transmite e a certeza que me passa, mas nunca a poderei viver na plenitude se não a mostrar a quem não a (re)conhece e por isso, hoje, pergunto-te: posso-te falar do meu Lugar preferido, e assim vivê-Lo contigo?
Cristiana Garcia