Na introdução da Carta, o Papa recorda quatro títulos atribuídos a São José pelos Romanos Pontífices e pela devoção popular: “Padroeiro da Igreja Católica”, “Padroeiro dos operários”, “Guardião do Redentor” e “padroeiro da boa morte”. O tema do trabalho e da boa morte tocam de perto a Bioética, a partir da sua relação com a família e a saúde humana.
A mesa de Nazaré, onde se servia o Filho de Deus, era nutrida pela vida de trabalho do santo carpinteiro. O silêncio de José guardava um ensinamento diário: “com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho”. “Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?” A realidade do trabalho sofre, hoje, as mesmas violências que o mundo da família. Relações contaminadas pelo egoísmo consumista, ambientes de competição acima da fraternidade. O trabalho deixou de ser uma prioridade social porque se desligou moralmente do núcleo familiar, perdendo, ainda, o sentido de colaboração com a obra divina. Ciente das consequências dramáticas da pandemia em curso, o Santo Padre formula uma prece: “Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”.
São José é invocado também como padroeiro da boa morte. Pessoalmente, recordo a oração que aprendi desde acólito, na voz insistente do meu santo pároco: “Oh São José, pai adotivo de Jesus Cristo e verdadeiro esposo da Virgem Maria, rogai por nós e pelos agonizantes deste dia. Amém”. Com o fenómeno do crescimento da esperança de vida, os efeitos desse incremento nos sistemas de saúde e a “hospitalização” da morte, torna-se até difícil imaginar um pai suspirando entre os braços de Jesus e Maria, no recanto escondido de Nazaré, até à hora derradeira. Se não é possível dar um passo atrás nesse processo, pelo menos deveríamos meditar as suas qualidades ética e espiritual. Reconduzir a família ao mistério da morte como “passagem” e não como simples “evento médico”. A presença de Jesus e Maria no leito de agonia do Santo Patriarca é o ícone mais consolador da morte cristã: não porque Maria e Jesus sejam “objetos de devoção” ao seu redor, mas porque a esposa e os filhos constituem o verdadeiro testamento de um pai.