Na mesma estrada, de uma existência radicalmente evangélica, o Papa recupera a partir de José uma importante categoria moral: o realismo cristão. Ouso dizer que aqui nos é oferecida a moldura para uma infinidade de outros temas, incluindo os tópicos clássicos da moral cristã no campo da sexualidade e da defesa intransigente da dignidade da pessoa. “A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe”. Acolher o “significado oculto” do plano de Deus exige “deixar de lado a ira e a desilusão para – movidos não por qualquer resignação mundana, mas com uma fortaleza cheia de esperança – dar lugar àquilo que não escolhemos e, todavia, existe”.
O rosto humano do Pai misericordioso da parábola pode ter os traços de José, comenta o Papa Francisco, porque era o semblante paterno mais próximo de Jesus. Só um coração de pai é capaz de fundir realismo e misericórdia. Aquele “realismo cristão que não deita fora nada do que existe. A realidade, na sua misteriosa persistência e complexidade, é portadora dum sentido da existência com as suas luzes e sombras. É isto que leva o apóstolo Paulo a dizer: «Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28). E Santo Agostinho acrescenta: tudo, «incluindo aquilo que é chamado mal». Nesta perspetiva global, a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes”. Esta citação do Santo Padre é uma chave para atravessar os desafios do nosso tempo, conciliando verdade e amor, entrando pela porta estreita sem a fechar para os outros. “O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27)”.