Preparar um casamento tem tanto de entusiasmante como de assustador, é uma segunda profissão durante dias, semanas, meses e no nosso caso anos, porque desde o dia que houve um pedido e um imediato “claro que SIM” como resposta, houve todo um outro mundo a abrir-se…
Foi uma enxurrada de questões que surgiram, toda uma maturação de ideias, um planeamento detalhado em calendários ocupados por duas profissões exigentes, toda uma pandemia a chegar (e ficar), e acima de tudo, toda uma crença para ser debatida.
Se até ao dia do bendito pedido a questão do batismo do outro era levada como brincadeira, traduzida nuns salpicos no Rio Jordão quando em viagem por Israel, a partir daquele momento virou uma questão a sério. Crês o suficiente para ir casar na Igreja? Estás disposto a criar os filhos na fé Cristã? Sabes o Pai Nosso? Como vamos fazer no dia do casamento? Mas afinal em que é que acreditas? Queres ir para a Catequese? Vamos fazer a preparação com os Jesuítas? Quem são os Jesuítas?
Parecem perguntas essenciais (algumas até demasiado básicas), que ao fins de uns anos de namoro já deviam ter sido debatidas, mas temos nós o direito de questionar a alguém se acredita em Deus, quando Deus está claramente presente em todos os seus atos, palavras e até mesmo nestas omissões? Mas sim, é claro que todos estes temas foram sendo alvo de conversa, mas agora era a sério e havia decisões para tomar…
Sempre me descrevi como uma “Católica Ecuménica”, porque se cresci segundo os preceitos do catolicismo, nunca me fechei aos seus desígnios e foram muitos as celebrações Anglicanas, Ortodoxas, Batistas e tantas outras que frequentei quando o meu trabalho me fazia saltar de continente em continente. Nessa altura era fácil… havia um Cristo comum que não precisa de explicações e um temor a Deus compreendido entre pares, mas agora era diferente…
De repente, ia dizer o maior Sim da minha vida, a (e com) alguém que provavelmente desconhece a Parábola do Bom Samaritano, ainda que a torne realidade todos os dias; alguém que não sabe citar os 10 mandamentos, mas partilha os valores e a ética que Moisés nos deixou; alguém que não sabe certamente o que São Paulo escreveu aos Coríntios no capítulo 13 da sua primeira epistola, mas me pediu para incluir uma leitura do Apóstolo no Missal do nosso Casamento, muito porque partilham o nome, mas também porque ambos acreditam que “Acima de tudo o Amor”.
E perante estas constatações do quotidiano tornou-se claro: este “Agnóstico Teista” (como se autodescreve), quis ele próprio ir à Igreja, ter uma celebração religiosa, deixar-se abençoar e encantar por um Padre que, também ele, Ama Deus sob todas as coisas – independemente das gentes, dos feitios e das formas – e aceitar, para sua esposa, a “Católica Ecuménica” que o arrasta para orações e missas inumeráveis e que ele vai com gosto. Diz ele que é por serem mais umas horas em que estão juntos e em comunhão, porque sente uma paz que não consegue explicar quando lá está e porque a cerveja do bar em frente, no fim das celebrações, é sempre bem servida. São todos, creio eu, motivos válidos: há entrega, há cedências, há compreensão, respeito, confiança, amor e um bocadinho de humor; precisa o matrimónio de mais algum ingrediente?
E ainda que para um de nós, todos estes compromissos para com o outro se traduzam num Sacramento, não é pelo facto do Outro não o receber que perde o seu valor, pelo contrário, talvez até o ganhe.
É que se para mim além do amor há toda uma lógica e um sentido no casamento, para o Paulo, além do sentido e da lógica, há o Amor… e onde há Amor, Deus está! Saibamos ambos ser prova disso…
Cristiana Garcia
Foto: invade.pt